segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

SOBRE O PROJETO DE LEI Nº 4.199/2001

Sobre o Projeto de Lei Nº 4.199/2001
Dispõe sobre o reconhecimento da profissão do Quiroprático ou Quiropraxista e a definição da atividade privativa da Quiropraxia para o tratamento de distúrbios bio-mecânicos do sistema neuro-músculo-esquelético e desalianhamento articular da coluna vertebral.

1- Histórico
a)    Projeto de Lei nº 4.199/2001, de autoria do deputado Alberto Fraga, foi apresentado à Câmara dos Deputados em 08 de março de 2001 com o propósito de reconhecer a profissão do Quiroprático ou Quiropraxista e definir a atividade privativa da Quiropraxia para o tratamento de distúrbios bio-mecânicos do sistema neuro-músculo-esquelético e desalianhamento articular da coluna vertebral.
b)    Em 25 de abril de 2001 o projeto foi encaminhado à  Comissão de Seguridade Social e Família, que designou o deputado Arnaldo Faria de Sá para relatá-lo. Em 13 de dezembro de 2001 a CSSF aprovou o parecer do deputado Arnaldo Faria de Sá, com substitutivo, sendo o PL nº 4.199/2001 encaminhado em 21 de dezembro de 2001 à Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço Público. Nesta Comissão, foi designado relator da matéria o mesmo deputado Arnaldo Faria de Sá, que proferiu parecer pela aprovação do projeto e do substitutivo da Comissão de Seguridade Social e Família.
c)    Em 31 de janeiro de 2003, com o fim da Legislatura, o PL 4.199/2001 foi arquivado nos termos do Artigo 105 do Regimento Interno e, em 12 de maio de 2003, a proposição foi desarquivada nos termos do Artigo 105 do Regimento Interno.
d)    Encaminhado novamente à Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço Público em 20 de maio de 2003, foi designado seu relator o deputado Tarcísio Zimmermann, que apresentou parecer em 30 de setembro de 2003, recomendando a aprovação da proposição, com substitutivo, e a rejeição do substitutivo da Comissão de Seguridade Social e Família. Citado substitutivo foi reformulado e aprovado na Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço Público  19 de novembro de 2003.
e)    Em 5 de dezembro de 2003, a Mesa Diretora da Câmara dos Deputados deferiu Requerimento da Comissão de Educação e Cultura, incluindo esta Comissão entre as que deveriam se manifestar sobre a matéria.
f)     Nesse período travou-se um embate entre o autor da matéria e a Comissão de Educação e Cultura sobre a legalidade ou não desta Comissão apreciar o projeto, tendo a Mesa Diretora decidido que a CEC deveria opinar sobre o mérito do PL nº 4.199/2001.
g)    A deputada Alice Portugal foi designada relatora do projeto na Comissão de Educação e Cultura e, imediatamente requereu a realização de Audiência Pública para discutir o assunto de forma ampla, com a participação de representação todas as profissões afetadas e do Ministério da Educação.
h)   Em 6 de setembro de 2005 o autor do PL nº 4.199/2001 apresentor requerimento pedindo que fosse desconsiderado o parecer aprovado na Comissão de Educação e Cultura. O requerimento foi indeferido pela Mesa Diretora da Câmara dos Deputados em 26 de outubro de 2005.
i)     Em 11 de abril de 2006, a Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania designou relator do projeto e deputado Antônio Carlos Pannunzio, que apresentou seu parecer em 31 de maio de 2006, pela constitucionalidade, juridicidade e técnica legislativa do PL nº 4.199/2001, do Substitutivo da Comissão de Seguridade Social e Família e do Substitutivo da Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço Público. Este parecer foi aprovado pela Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania em 21 de novembro de 2006.
j)     Em 30 de novembro de 2006 o deputado Arnaldo Faria de Sá apresentou ao plenário da Câmara dos Deputados Requerimento de Urgência, com base nos arts 153 e 154 do Regimento Interno, para apreciação do PL nº 4199/2001.

2- Audiência Pública
Na tarde do dia 02 de agosto, a Comissão de Educação e Cultura da Câmara dos Deputados realizou concorrida Audiência Pública para discutir a regulamentação da profissão de quiropraxista e ouvir as opiniões de representantes de diversas entidades da área de saúde sobre o assunto. Participaram da sessão, como convidados, José Leite Saraiva, representante da Secretaria de Ensino Superior do MEC; Ana Cristina de Oliveira Brasil, vice-presidente do Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional; Joel Eufrázio, representante do Conselho Regional de Fisioterapia e Terapia Ocupacional da 2ª região; Ricardo Fujikawa, presidente da Associação Brasileira de Quiropraxia; Aloísio Bonavides Júnior, representante da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia; Cláudia Fonseca Pereira, presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Física e Reabilitação; Nilton Petrone Vilardi Júnior (Filé), diretor da Faculdade de Fisioterapia de Fisioterapia da Universidade Estácio de Sá do Rio de Janeiro; e Marcos Ornelas Palmeira, quiropraxista e professor da Universidade Federal da Bahia.
Durante os debates, o Dr. José Leite Saraiva, representante do MEC, fez a primeira exposição, reafirmando a preocupação da Secretaria de Ensino Superior do MEC com a proliferação de cursos sem reconhecimento oficial e manifestando posicionamento contrápario ao reconhecimento da profissão de quiropraxista ou quiroprata.
O Dr. Ricardo Fujikawa, presidente da Associação Brasileira de Quiropraxia, defendeu a regulamentação da profissão de quiroprata e apresentou informações sobre a regulamentação desta profissão em outros países. A Dra. Ana Cristina de Oliveira Brasil, enalteceu a iniciativa de realização do debate e manifestou a posição do Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional contrária à regulamentação da profissão de quiroprata.
O Dr. Aloísio Bonavides Júnior, representante da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia foi o quarto debatedor a se pronunciar, seguido por seu colega Dr. Mauro Brandão, do Conselho Federal de Medicina, ambos apresentando sólida argumentação contra a regulamentação da profissão de quiroprata ou quiropraxista.
Joel Eufrázio, fisioterapeuta e representante do Conselho Regional de Fisioterapia e Terapia Ocupacional da 2º Região, falou a seguir e fez o mais contundente pronunciamento contrário à aprovação do PL 4.199/2001, enumerando os riscos da aprovação da proposição e apresentando inúmeros dados do Brasil e de outros países para reforçar seu posicionamento.
Levando em consideração os debates sobre o conteúdo do PL nº 4.199/2001 e os posicionamentos da ampla maioria das entidades da área de saúde, contrários à regulamentação da profissão de quiropraxista, a deputada Alice Portugal apresentou seu parecer à Comissão de Educação e Cultura recomendando a rejeição da proposição e dos substitutivos das Comissões de Seguridade Social e Família e de Trabalho, de Administração e Serviço Público.

3- Parecer da Comissão de Educação e Cultura
Em seu parecer aprovado pela Comissão de Educação e Cultura a deputada Alice Portugal fez longa explanação sobre os motivos que a convenceram a recomendar a rejeição do projeto e dos dois substitutivos a ele apresentados.
Destacam-se, no parecer, os seguintes trechos:
“...Pelo fato de ter sido regulamentada por meio de um Decreto-Lei, o de n° 938, de 13 de outubro de 1969, a fisioterapia brasileira tem uma característica que a diferencia das praticadas em outros países. De fato, sua implantação foi realizada de uma maneira clara e precisa, dentro de preceitos que fundamentam o que há de melhor dentro dos cuidados físicos, não médicos, necessários para a recuperação e a manutenção da boa saúde física. “
“ ... o fisioterapeuta brasileiro é reconhecido como um dos melhores do mundo, segundo levantamento feito pela entidade Cross Country Healthcare Personnel, sediada no Estados Unidos da América do Norte.”
“...A formação acadêmica na fisioterapia brasileira está fundamentada de tal forma que os currículos das escolas proporcionam ao estudante todo o embasamento teórico e prático necessário à incorporação de novas técnicas ao longo da carreira de fisioterapeuta.”
“... O fisioterapeuta e um profissional de saúde com formação acadêmica superior, habilitado à construção do diagnóstico dos distúrbios cinéticos funcionais (diagnóstico cinesiológico funcional), a prescrição das condutas fisioterapêuticas, a sua ordenação e indução no paciente bem como, o acompanhamento da evolução do quadro clínico funcional e as condições para alta do serviço.  Tais atividades são regulamentadas pelo Decreto-Lei 938/69, pela Lei 6.316/75, pelas Resoluções do COFFITO, pelo Decreto 9.640/84 e pela Lei 8.856/94.”
“... De acordo com a WCPT – Confederação Mundial de Fisioterapia, a Fisioterapia conta com 48.587 profissionais nos Estados Unidos, 9.207 profissionais no Canadá, 29.929 na Alemanha, 6.600 profissionais na Suíça, 31.809 no Japão, 7.286 na Dinamarca, 6.526 na Finlândia, 8.278 na Austrália, 6.223 na Espanha, 4.000 na França, estando devidamente estabelecida em mais de 92 países. No Brasil, a Fisioterapia soma atualmente cerca de 78.000 profissionais (Dados de agosto de 2005), totalizando, somente nestes 11 países, aproximadamente 237.000 Fisioterapeutas. Já o quiropraxista, segundo definição da Federação Mundial de Quiropraxia (World Federation of Chiropractic), entidade que tem caráter de organização não-governamental, é o profissional da área da saúde que se dedica ao diagnóstico, tratamento e prevenção de alterações mecânicas do sistema músculo-esquelético e seus efeitos sobre a função do sistema nervoso e da saúde em geral.
“... No Brasil, esta profissão não está regulamentada e os quiropraxistas atuam utilizando-se de título obtido em outra área da saúde legalmente reconhecida (como medicina, fisioterapia, enfermagem, etc.) ou associando-se a outros profissionais com títulos reconhecidos. Em países como EUA, Austrália e Canadá, a Quiropraxia é regulamentada por lei e sua prática está integrada aos sistemas nacionais de saúde. Ressalte-se, contudo,  que em tais países a os cursos de fisioterapia não incluem currículos completos como os ministrados no Brasil.”
“... As faculdades de quiropraxia estão localizadas principalmente nos Estados Unidos. mas há cursos oficialmente reconhecidos no Canadá e em poucos outros países da Europa, Oceania e Ásia. Atualmente, há aproximadamente 70.000 quiropraxistas em atuação no mundo, dos quais 50.000 encontram-se nos Estados Unidos e outros 6.000 no Canadá. Em nosso país, a Associação Brasileira de Quiropraxia, uma entidade de direito privado, congrega atualmente apenas 75 indivíduos profissionais.”
“... Embora não reconhecidos pelo MEC, os cursos de quiropraxia em nosso país são oferecidos nas Faculdades Anhembi-Morumbi, situada na capital de São Paulo, e pelo Centro Universitário Feevale, localizado em Novo Hamburgo, Rio Grande do Sul. Os currículos desses cursos são de cursos livres, vez que não há a regulamentação pelo Ministério da Educação de um currículo mínimo da forma estabelecida para a fisioterapia e outros cursos. Boa parte das disciplinas oferecidas nos dois cursos são extraídas do currículo da Fisioterapia.”
“... Ante o exposto, levando em consideração as peculiaridades específicas das profissões da área de saúde regulamentadas em nosso país, considerando em particular a excelência dos cursos de fisioterapia ministrados nas inúmeras faculdades e universidades brasileiras, mas, também, ciente da relevância da técnica da quiropraxia no tratamento de determinadas alterações mecânicas do sistema músculo-esquelético e seus efeitos sobre a função do sistema nervoso, creio que a quiropraxia deveria ser ministrada  em instituições de ensino superior como uma especialização da fisioterapia e não como um curso autônomo.
A quiropraxia é uma especialidade terapêutica física, que pelas suas peculiaridades deve exigir dos profissionais da fisioterapia especialização adicional. Porém, não se justifica que a quiropraxia seja regulamentada como uma profissão à parte, uma vez que os princípios metodológicos dos procedimentos manipulativos e/ou de ajustamento ósteo-articular, ditos como quiropraxia, estão agasalhados na formação acadêmica do fisioterapeuta, tanto assim, que terminou por ser a base da construção curricular dos projetos pedagógicos dos cursos de quiropraxia da Feevale e da Anhembi Morumbi.
“... Pelas razões expostas, mas sem deixar de prestar o meu respeito às intenções e idéias do ilustre autor da proposta em apreço, Deputado ALBERTO FRAGA, vejo como desnecessária e inadequada, sem mérito educacional ou cultural, uma proposição que, ao introduzir alterações na regulamentação hoje existente para o exercício da profissão de fisioterapeuta e terapeuta ocupacional, acaba criando uma separação profissional da quiropraxia, quando, na verdade, a quiropraxia deve ser entendida como  apenas uma ramificação, uma especialidade do campo da fisioterapia.”

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Notícias de Fisio...UFSCar pesquisa tratamentos para portadores de doenças no coração.

UFSCar pesquisa tratamentos para portadores de doenças no coração

UFSCar pesquisa tratamentos fisioterápicos direcionados a portadores de doenças no coração.
Estudos são desenvolvidos no Programa de Pós-Graduação em Fisioterapia e têm como objetivo elaborar protocolos de tratamento para recondicionamento da musculatura sem riscos cardiovasculares.

Estudo desenvolvido no Programa de Pós-Graduação em Fisioterapia (PPGFt) da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) pretende avaliar o comportamento cardiovascular durante sessões de exercícios físicos de força. As pesquisas são desenvolvidas pelas alunas do doutorado do PPGFt Flávia Rossi Caruso, Daniela Bassi Dutra e Milena Sperling, sob orientação da professora Audrey Borghi e Silva, do Departamento de Fisioterapia (DFisio).
Os estudos têm como objetivo final desenvolver protocolos de tratamento fisioterapêutico para recondicionamento da musculatura sem riscos cardiovasculares, direcionados a portadores de doenças arteriais coronarianas. Para o desenvolvimento dos estudos, as pesquisadoras convidam voluntários, homens com idade superior a 50 anos, de São Carlos e região, que apresentaram ou apresentam algum problema cardíaco, como infarto e cirurgia cardíaca, e que não tenham problemas respiratórios.
Os voluntários serão selecionados a participarem de exercícios físicos sob orientação profissional e todos passarão por avaliações médica e fisioterapêutica que permitem verificar as condições do coração. Os participantes serão submetidos a exercícios nos membros inferiores de cicloergometro e leg press, que permitem averiguar o comportamento cardíaco, metabólico e respiratório. Inicialmente, os voluntários participarão de quatro avaliações e os selecionados participarão de atividades de treinamento de força para membros inferiores durante três meses, com frequência de duas sessões semanais, com duração máxima de uma hora.
As sessões acontecem no Laboratório de Fisioterapia Cardiovascular do Núcleo de Pesquisa em Exercício Físico (NUPEF) do DFisio. Interessados em participar do estudo podem entrar em contato com a pesquisadora Flávia Rossi Caruso, pelo e-mail fla.rossi@hotmail.com.

Relato de Caso: Fratura de Patela

Destaco que o conteúdo é de inteira responsabilidade dos autores e que o blog é só um meio de divulgação e compartilhamento, Abraços.


Relato de Caso: Fratura de Patela
AUTORES: Maria Raphaela Marinho
                      Marília Vasconcellos Hazin

Recife, 03 de Dezembro de 2011.


FRATURA DE PATELA

            As fraturas da patela representam aproximadamente 1% de todas as fraturas, apresentam maior prevalência na faixa etária de 20 a 50 anos e acometem duas vezes mais o sexo masculino.
            A patela é o maior osso sesamóide do corpo, composto principalmente pela faceta articular medial e lateral. Sua principal função é aumentar a eficiência da contração muscular do quadríceps na extensão do joelho aumentando o braço de alavanca do quadríceps, especialmente nos graus iniciais de flexão (cerca de 30%) e próximo à extensão completa do joelho (cerca de 15%) em torno dos 30º de flexão.            Geralmente, a faceta lateral ocupa mais de 50% da superfície articular total, e enquanto os três quartos proximais da patela são cobertos por cartilagem, o pólo distal é praticamente extra-articular. O mecanismo extensor é constituído basicamente pelos músculos: reto femoral e quadríceps, tendão quadricipital, patela, ligamento patelar e tuberosidade anterior da tíbia. As expansões laterais do vasto medial e lateral do quadríceps mesclam-se com fibras transversas profundas que se originam dos epicôndilos femorais formando os retináculos patelares. Atuam como extensores secundários do joelho conjuntamente com o trato iliotibial. Quando os retináculos e as fibras de Sharpey estão íntegros, a extensão ativa do joelho pode ser possível mesmo na presença de uma fratura patelar, fato importante para o diagnóstico e tratamento.
            O mecanismo de trauma pode ser direto ou indireto. Os mecanismos mais comuns são traumas diretos como quedas ao solo e acidentes automobilísticos. O ângulo de flexão do joelho parece desempenhar importante papel no tipo de fratura e na energia requerida para produção da mesma. Traumas diretos geralmente produzem fraturas longitudinais ou estreladas. Mecanismos indiretos, como a contração violenta do quadríceps contra uma resistência, podem exceder a resistência óssea intrínseca da patela. Nesses casos, a fratura geralmente é transversa e a lesão dos retináculos é mais extensa. Exemplos são quedas de locais elevados, em pé, com joelho fletido.

            Como formas de tratamento existem o tratamento conservador que deve ser indicado nos casos de fraturas não desviadas (menos de 2mm de degrau articular ou menos de 3mm de separação entre os fragmentos) com mecanismo extensor intacto. Em pacientes com baixa demanda funcional, como idosos debilitados e pacientes acentuadamente osteoporóticos, desvios maiores podem eventualmente ser aceitos. Aproximadamente um terço das fraturas patelares requer tratamento cirúrgico como fixação em banda de tensão ou parafuso, cerclagem e patelectomia parcial ou total. Porem, a preservação da patela é sempre preferida quando possível, já que há um grande comprometimento do mecanismo extensor. Os resultados das patelectomias totais são consistentemente piores que os das patelectomias parciais e das fixações internas, com acentuada perda da força muscular, amplitude de movimento, além de poder resultar em instabilidade anterior e osteoartrose.  Atividades do cotidiano podem gerar forças compressivas patelofemorais maiores que três vezes o peso corporal, enquanto forças geradas ao subir escadas ou agachar-se podem exceder sete vezes o peso corporal.
            Como complicações freqüentes de uma fratura de patela podem aparecer: rigidez do joelho com algum déficit de flexão, fraqueza do quadríceps, irritação dos tecidos circunvizinhos pelo material de síntese, perda de redução e osteoartrose patelo-femoral. Até 70% dos pacientes podem ter alguma queixa durante o seguimento. Outras complicações descritas incluem infecção, pseudoartrose e necrose avascular no caso de fraturas transversas, pois suprimento sanguíneo provém de um amplo anel anastomótico das artérias geniculares que penetram principalmente a partir da porção anterior média e pólo distal da patela, o que deixa o pólo proximal nas fraturas transversas mais suscetível à necrose avascular, que pode ocorrer de 3,5% a 24% dos casos. Considera-se que a taxa de complicações pós-operatórias varie de O a 15%.


Patomecânica:

Cabeça anteriorizada devido ao encurtamento bilateral do ECOM (Posição antálgica adotada pelo paciente);
Ombros protrusos devido ao encurtamento do peitoral menor e maior. Que conseqüentemente levará a uma rotação interna com encurtamento do Redondo maior, peitoral menor, grande dorsal, deltóide anterior e subescapular. Com uma competência diminuída dos rombóides e trapézio médio. 
Aumento da cifose torácica devido ao encurtamento do mecanismo suspenso diafragmal e da cadeia inspiratória que são os músculos ECOM, escalenos, intercostais externos, eretores da espinha, grande dorsal e etc. Isso leva a um abdome globoso fazendo com que o paciente tenha comprometimento respiratório por causa do encurtamento dos músculos abdominais.
Pelve em retroversão que leva a uma diminuição da lordose lombar com encurtamento dos SQTS;
Quadril em semi-flexão do lado acometido, devido ao período de imobilização, com encurtamento dos flexores do quadril que são iliopsoas, sartório, pectíneo, adutor (longo e curto), tensor da fascia lata, que leva a uma competência diminuída dos extensores que são glúteo máximo e médio, SQTS e piriforme. A posição do membro em semi-flexão tornará o membro funcional e aparentemente mais curto, provocando uma inclinação lateral da pelve com o encurtamento do quadrado lombar. Tal inclinação mudará a posição do centro de gravidade, fazendo com que o paciente adote uma posição antálgica compensatória.
Joelho em fletido, devido à conseqüência do período de imobilização, gerando o encurtamento do SQTS e tríceps sural (Fratura transversa rompe os retinaculos e perde a extensão ativa);
            Pé em flexão plantar (para auxiliar na deambulação, que fará com ele perca a batida do calcanhar na marcha), devido à posição adotada no pós cirúrgico, que leva a um encurtamento dos flexores que são fibular longo e curto, tibial posterior, gastrocnêmio e sóleo e uma competência diminuída do tibial anterior e fibular anterior que faz a dorsiflexão.

ANAMNESE

PACIENTE: M. C. S.;
-IDADE: 37 anos;
-PROFISSÃO: Professora;
-HD: Fratura de Patela  cominutiva

Q.P:  Dor ao pisar no chão, relatando dor de grau 9,  segundo a escala visual analógica.

H.A.D: Paciente relata queda ao descer da escada,  onde bateu a parte anterior do joelho no degrau. Raio x   mostrou fratura de patela cominutiva. Paciente chega ao consultório, com auxílio de muletas.


EXAME FISICO

Inspeção Estática
Cabeça Anteriorizada;
Aumento da cifose torácica;
Ombros Protrusos com rotação interna;
Escapulas levemente abduzida;
Abdome Globoso;
Pelve em retroversão;
EIAS do lado acometido mais elevado;
Quadril semi-flexionado do lado acometido;
Joelho fletido do lado acometido;
Flexão Plantar do lado acometido;

Inspeção dinâmica
Devemos observar a integridade do mecanismo extensor solicitando ao paciente que sustente o joelho estendido contra a gravidade. Como esse paciente apresenta um quadro álgico muito intenso, a parte dinâmica o profissional realiza depois da proteção máxima quando o paciente passou da fase de dor intensa e já consegue realizar os movimentos.
Analisamos o padrão de marcha do paciente, que podemos observar que a dissociação das cinturas está comprometida.

Palpação: Joelho acometido edemaciado
Perimetria: Aumentada no lado comprometido

Goniometria
Flexão e extensão do Joelho;
Extensão, Flexão, Abdução, Adução, Rotação interna e externa do Quadril;
Flexão plantar e dorsiflexão.

Teste Comprimento Muscular (TCM)
Músculos extensores do quadril (músculos isquiotibiais (porção longa do bíceps femoral, semimenbranoso e semitendinoso)
Músculo flexor do quadril (músculo reto femoral)
Músculos flexores do joelho (músculos bíceps femoral (porção curta) e poplíteo)
Músculos extensores do joelho (músculos vasto lateral, vasto medial e vasto intermédio)

Teste Muscular Manual (TMM)
Músculos Psoas maior e ilíaco
Músculo Sartório
Músculos glúteos máximo, médio e mínimo
Músculo tensor da fáscia lata
Músculos adutores longo, magno e curto, grácil e pectíneo
Músculos obturadores interno e externo, gêmeos superior e inferior, quadrado femoral e piriforme.
Músculos reto femoral e vastos intermédio, medial e lateral (quadríceps)
Músculos bíceps femoral, semitendinoso e semimenbranoso

Testes Clínicos Especiais (TCE)
Teste de apreensão patelar
Teste do reflexo do tendão patelar
Teste do crepitação patelar
Teste rechaço patelar

OBS: Todos os testes e a goniometria serão feitos na fase de proteção moderada ou quando o paciente estiver com ausência de dor, ou quando a mesma for suportável e a fratura estando consolidada.


Objetivo Geral

  • Restabelecer a funcionalidade do complexo do joelho e do membro inferior como um todo para o retorno do paciente as suas AVD’s, proporcionando-lhe mais segunrança e estabilidade principalmente para deambular.

Objetivos Específicos

  • Controlar a dor e o edema;
  • Manter a mobilidade dos tecidos moles e da articulação;
  • Manter a função muscular e impedir aderências patelares;
  • Aumentar a mobilidade intra-articular e a ADM;
  • Melhorar o trofismo muscular;
  • Equilibrar descarga de peso;
  • Trabalhar propriocepção
  • Recuperação do engrama motor.
  •  Treinar a marcha

 Conduta de tratamento

Fase de Proteção Máxima

  • Iniciar o tratamento com aplicação de gelo (de 20 a 30 minutos). O gelo provoca vasoconstricção, que diminui a vascularização, diminuindo a circulação e, consequentemente o edema e a dor.
  • Fortalecimento da casa de força realizando trabalhos respiratórios;
  • Deslizamento da fáscia plantar;
  • Deslizamento miofascial do trato iliotibial e quadríceps;
  • Mobilização das partes moles, fundo de saco sub-quadriciptal, retináculos patelares (medial e lateral), e tendão patelar, para evitar a formação de microaderências (fardo de feno);
  • Mobilização femuro-tibial com pequena amplitude;
  • Alongamento do tríceps sural e ísquiostibiais em decúbito dorsal;
  • Séries isométricas para quadríceps e isquiostibiais;
  • Mobilização pélvica com duas bolinhas. O joelho acometido pode ficar apoiado em uma almofada;
  • Dissociação das cinturas;
  • Exercícios de dorsiflexão e flexão plantar (mobilização tibiotársica);
  • Fortalecimento de músculos do membro superior para prepara-lo ao uso de muletas;
  • Treino de marcha com muletas;
  • Exercícios de flexão e extensão do joelho (pequena amplitude) para ganho de ADM com uma faixa amarrada ao tornozelo do paciente;
  • Exercícios de SLR (elevação da perna reta).

Fase de Proteção Moderada

  • Continua o fortalecimento da casa de força, trabalhando a respiração;
  • Dissociação das cinturas com maior resistência;
  • Streatching do quadrado lombar;
  • Músculo-energia dos isquiotibiais;
  • Músculo-energia do quadríceps;
  • Continuar alongamento passivo do quadríceps;
  • Autoalongamento dos abdutores, adutores e isquiostibiais com faixa;
  • Mobilização articular sentado na bola suíça, em baixas amplitudes de:
- ântero e retroversão de quadril;
- flexão e extensão de joelho;
- dorsiflexão e flexão plantar de tornozelo.

  • Exercício de sentar/levantar, subir e descer degraus sem apoio das mãos;
  • Continuar fortalecimento de músculos do membro superior;
  • FNP de MMII partindo do padrão de extensão/flexão e depois flexão/extensão sem resistência;
  • Agachamento assistido com a bola entre a parede e as costas do paciente;
  • Mobilização passiva da patela em látero-lateral e crânio-caudal;

Fase de Proteção Mínima

  • Auto-postura de isquiotibiais com faixa;
  • Alongamento de cadeia anterior na bola
  • Alongamento de cadeia lateral na bola;
  • Alongamento global de cadeia posterior na rampa com mobilização neural;
  • Agachamento assistido com o fisio roll entre a parede e as costas do paciente. Utiliza-se uma bola entre as pernas do paciente para alinhar a patela;
  • Fortalecimento muscular na posição da ponte, gato e cavalo;
  • Fortalecimento do quadríceps;
  • Fortalecimento dos adutores da coxa (adutor longo, curto, magno e grácil);
  • Circuito para desenvolver o engrama motor - treino proprioceptivo utilizando prancha, balancinho, cama elástica, disco, rampa, escada, agachamento;
  • Exercício num plano instável

Fase de liberação

  • Exercícios Pliométricos;
  • Exercícios simulando a queda;
  • Exercícios na cama elástica com exercícios mais avançados;
  • Exercícios de olhos fechados, para estimular a propriocepção.


Prognóstico:

Paciente evoluiu bem, onde mostrou ganho ADM máxima da articulação, tanto para flexão como extensão, e ganho de trofismo muscular. Apresentou marcha sem auxílio de muletas e sem deambular onde foi feito vários exercícios  pliométricos para sua recuperação na fase de liberação.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Relato de caso: Fratura de calcâneo

Nessa tag inauguro uma nova sessão no blog intitulada RELATO DE CASO. a idéia é que possamos compartilhar achados clínicos empíricos da vivência em fisioterapia, destaco que o conteúdo é de responsabilidade dos autores e que o blog é só um meio de divulgação e compartilhamento, Abraços.


Relato de Caso: Fratura de Calcâneo



AUTORES

Aline Rafael Viega Ferreira
Nayra Bernardo da Silva
Mirella Vance de Figueiredo Ramos



Introdução

O calcâneo é um osso de sustentação e amortecimento de cargas dinâmicas. Ele forma o calcanhar e suporta grande parte de todo o peso do corpo, principalmente na primeira fase da marcha (1).
As fraturas de calcâneo correspondem a 2% do total de fraturas do corpo humano e ocorre geralmente em quedas de altura ou acidentes automobilísticos em pacientes em idade produtiva, o que causa problemas de ordem social e econômica, pois ocorrem em indivíduos economicamente ativos. (2)
As fraturas podem ser classificadas em dois grupos: sem comprometimento articular e com comprometimento articular (3). De acordo com Hoppenfeld e Murthy (4) fraturas extra-articulares de calcâneo são geralmente decorrentes de impacto súbito de alta velocidade no calcanhar, como a queda de uma altura de 1 metro ou um acidente automobilístico.

Relato de Caso
                                
     Paciente de 41 anos de idade, sexo feminino, admitida no serviço de urgência do Hospital Regional do Agreste em Caruaru – PE, vítima de um acidente motociclístico, relatando fortes dores na região do calcanhar esquerdo. Na história relatou que, ao andar na carona de uma motocicleta teve seu pé preso entre os aros da roda traseira. O estudo radiológico permitiu o diagnóstico de fratura extra-articular de calcâneo. No mesmo dia foi submetida a tratamento cirúrgico da fratura, onde foram colocados seis fios de kirschner (Figura 1).

Figura 1. Radiografia em perfil, evidenciando o tratamento cirúrgico com fios de kirschner na fratura de calcâneo.

Após 24 dias do tratamento cirúrgico a mesmo foi admitida no Ginásio de Fisioterapia do Hospital Regional do Agreste, onde na avaliação foram encontrados os seguintes achados: Hipotrofia de membro inferior esquerdo, presença de edema na região do tornozelo, marcha com apoio de muletas (Figura 2), presença de dor e secreção purulenta na região da incisão cirúrgica (Figura 3), aparente aumento da temperatura na região edemaciada.

                                                Figura 2. Marcha com apoio de muletas.
Figura 3. Presença de secreção purulenta na região da incisão cirúrgica.

Goniometria:
Eversão
Inversão
16º
Dorsiflexão
Flexão plantar
14º


Perimetria da coxa (ponto de referência: borda superior da patela):

MID
MIE
0
32 cm
31cm
7
34,5 cm
33 cm
14
41,5 cm
39 cm
21
47 cm
44,5 cm

Perimetria da perna (ponto de referência: borda inferior da patela):

MID
MIE
0
30,5 cm
29,5 cm
5
30,5 cm
28 cm
10
30 cm
26 cm
15
26 cm
23 cm
20
21 cm
20 cm

Teste de força (MIE):
Flexores do quadril
Grau 4
Extensores do quadril
Grau 4
Abdutores
Grau 4
Adutores
Grau 4
Flexores do joelho
Grau 5
Extensores do joelho
Grau 5
Eversores
Grau 3
Inversores
Grau 3
Dorsiflexores
Grau 3
Flexores plantares
Grau 3

Diante da avaliação realizada, inicialmente foram traçados alguns objetivos como a redução do edema, redução do quadro álgico, melhora da amplitude de movimento, melhora do trofismo e força muscular, prevenção de deformidades e melhora da marcha com muletas.
Para atingir os objetivos traçados foi adotado a crioterapia por 30 minutos na região edemaciada, alongamentos da musculatura global dos membros inferiores, limitando sempre a dor da paciente, mobilização ativa e passiva de todos os movimentos do tornozelo, fortalecimento da musculatura do membro inferior sem carga (Figura 4), exercícios de propriocepção com auxílio do tablado e bola (Figura 5), apoio parcial do pé no chão (Figura 6) e a utilização do FES na região da coxa e perna para auxiliar a paciente a realizar o movimento de dorsiflexão e contração isométrica do quadríceps (Figura 7).
Figura 4. Fortalecimento isométrico com auxílio da bola.

Figura 5. Propriocepção com auxílio da bola.


Figura 6. Apoio parcial do pé no chão.
Figura 7. Utilização do FES.
Após dezoito sessões de fisioterapia a paciente retornou ao médico, onde foram retirados quatro, dos seis fios de kirschner, sendo liberada para o apoio parcial do peso e o apoio com só uma muleta. Ao retornar ao serviço de fisioterapia foi feito uma reavaliação e iniciado trabalho de fortalecimento com carga (Figura 8), o inicio de deambulação com apoio só de uma muleta e o apoio parcial de peso com o pé no chão.
Figura 8. Exercícios de fortalecimento da dorsiflexão com carga manual.
 Na reavaliação foi possível observar uma melhora considerável no quadro geral da paciente. Melhora do quadro álgico, sem presença de edema, melhora da força e ganho de amplitude de movimento como mostra as tabelas abaixo.

Goniometria:

AVALIAÇÃO
REAVALIAÇÃO
Eversão
14º
Inversão
16º
12º
Dorsiflexão
13º
Flexão plantar
14º
18º

Perimetria da coxa (ponto de referência: borda superior da patela):

AVALIAÇÃO
REAVALIAÇÃO
MID
MIE
MID
MIE
0
32 cm
31cm
32 cm
31,5 cm
7
34,5 cm
33 cm
35 cm
33,5 cm
14
41,5 cm
39 cm
41,5 cm
40 cm
21
47 cm
44,5 cm
47 cm
45 cm

Perimetria da perna (ponto de referência: borda inferior da patela):

AVALIAÇÃO
REAVALIAÇÃO
MID
MIE
MID
MIE
0
30,5 cm
29,5 cm
30,5 cm
29,5 cm
5
30,5 cm
28 cm
31 cm
28,5 cm
10
30 cm
26 cm
30 cm
26,5 cm
15
26 cm
23 cm
26,5 cm
24 cm
20
21 cm
20 cm
21 cm
20 cm


Teste de força (MIE):

AVALIAÇÃO
REAVALIAÇÃO
Flexores do quadril
Grau 4
Grau 5
Extensores do quadril
Grau 4
Grau 5
Abdutores
Grau 4
Grau 5
Adutores
Grau 4
Grau 5
Flexores do joelho
Grau 5
Grau 5
Extensores do joelho
Grau 5
Grau 5
Eversores
Grau 3

Grau de força mantido
Inversores
Grau 3
Dorsiflexores
Grau 3
Flexores plantares
Grau 3


Após 26 sessões, desde a admissão no Ginásio de Fisioterapia do Hospital Regional do Agreste, a paciente não compareceu mais a fisioterapia não podendo assim registrar a continuidade do seu tratamento.


Conclusão

Em 26 sessões, nas quais tratou e analisou-se a evolução da paciente, foi verificado que apesar se ser uma fratura em uma região delicada, por ser diretamente ligada à marcha, os resultados obtidos foram alcançados. Foi possível observar que o edema cessou, a paciente obteve uma melhora na força, na amplitude de movimento e diminuição do quadro álgico.
Apesar de o tratamento ter sido interrompido a fratura obteve um bom prognóstico, confirmando a importância da fisioterapia, possibilitando ao paciente o retorno mais breve e com qualidade as suas atividades da vida diária.